03 julho, 2007

O bandido da panela

Estávamos acampados, eu e um namorado, num lugar totalmente deserto, que tinha uma das cachoeiras mais lindas que já conheci. Acampávamos sempre por lá, apesar das histórias de morte e assassinato que cercavam o local. Perto dali, havia uma destilaria abandonada e nunca faltava alguém pra contar que um fugitivo de uma penitenciária não sei de onde, que estava escondido por lá, havia matado alguém por aquelas bandas. Ainda assim, íamos. Éramos apaixonados, corajosos, a cachoeira era lindíssima e carregávamos um facão bem afiado, achando que saberíamos usá-lo se precisássemos.
Naquela noite, estávamos apenas nós dois. Não havia lua e o silêncio era total. Vez em quando um trem apitava lá longe, numa antiga estação que já não funcionava mais. Cozinhávamos num fogão de pedras, improvisado ao lado da barraca. Comemos e fomos dormir. De madrugada, em meio àquele silêncio todo, acordamos com o barulho de alguém mexendo na tampa da panela.
- QUEM ESTÁ AÍ!!??? – pergunta meu namorado, todo corajoso, já com a faca na mão. Silêncio novamente. Tentamos dormir de novo, mas logo depois, o mesmo barulho da tampa balançando em cima da panela nos acordava.
- QUEM ESTÁ AÍ???? – gritava ele, com a voz mais grave que conseguia fazer. Nada. Mais uma vez, tentamos dormir, mas, a essa altura, já estávamos apavorados.
Pouco depois, alguém mexia na panela de novo. Num pulo, ele acendeu a lanterna e abriu o zíper da barraca. “QUEM ESTÁ AÍ????” Imediatamente, ouvimos um barulho de passos sobre as folhas e deduzimos que o intruso corria para a mata, que ficava logo atrás de onde estávamos acampados. Saímos e, mesmo com a luz da lanterna, não conseguimos ver absolutamente nada.
Passamos a noite inteira assim, acordados e apavorados. De vez em quando, ouvíamos de novo o maldito som da tampa da panela mas, se falávamos alguma coisa, o sujeito corria pra mata, delatado pelo barulho das folhas secas.
Assim que raiou o dia, começamos a juntar as coisas todas pra ir embora correndo. Jogávamos tudo dentro das mochilas de qualquer jeito, pois queríamos sumir dali imediatamente.
Foi então que peguei a panela e comecei a raspar o resto da comida que havia nela. Do meio do mato, sem mais nem menos, sai um cachorrinho preto. Ele foi se aproximando timidamente, rabo entre as pernas, orelha caída, olhando faminto pra comida. O danado não tinha uma só manchinha branca, nem o branco do olho dava pra ver em meio a tanto pêlo.
O bandido da panela que nos aterrorizou a noite toda não era maior do que um cocker spaniel e adorava macarrão com sardinha.

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