18 julho, 2007

JJ 3054

Estava deixando minha mãe e minha filha em casa ontem, o rádio do carro estava ligado numa dessas emissoras que têm aqueles programas insuportáveis em que os locutores ligam pra casa dos ouvintes e passam trotes pra encher o saco das pessoas que atendem o telefone. Na verdade, o programa estava entrando no ar e eles disseram algo mais ou menos assim:
- Pô, meu, viu lá o acidente da TAM? Que mal, né....
- É mal pra caralho... Essas coisas são tristes, né?
- É foda... mas a vida continua, né?
- Pode crer... Vamo continuar aí com o programa, então, né?
- Vamo aí.

A rádio seguiu com o programa, minha filha e minha mãe desceram do carro e eu segui meu caminho, sem imaginar o tamanho da tragédia que havia acabado de acontecer. Eram 19h: dez minutos após da queda do avião da TAM, portanto.
Quando mudei de emissora e tive noção do que estava acontecendo, quando vi o tamanho do trânsito que me esperava rumo ao bairro do Aeroporto, quando carros e mais carros de bombeiros e ambulâncias começaram a passar alucinados por mim, comecei a pensar na locução dos dois rapazes e tive vergonha de ver o uso que está sendo dado aos veículos de comunicação.
É muito provável que depois a emissora tenha dado uma cobertura mais decente do acidente, mas, naquele momento, a forma como os rapazes o abordaram foi lastimável.
Mais tarde, assisti pela TV à veiculação das imagens do incêndio e da exploração da tristeza dos familiares das vítimas com a exibição dos gritos de horror, medo, pânico, dor e sofrimento de pais, mães, maridos, esposas e filhos que esperavam uma notícia. A exploração da dor e do desespero daquelas pessoas entrou em nossa casa através do mais importante veículo de comunicação da atualidade em busca de um ponto a mais de audiência... Desliguei a TV e percebi que ainda tinha muita vergonha a sentir.

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