“Azul, para proteção? Amarelo, pra atrair dinheiro? Branco pra ter tranqüilidade? Rosa, para um novo amor? Vermelho fatal, talvez?!!”
Saiu do banho, abriu a gaveta, olhou, olhou e nada. “Tanta calcinha e não tem nenhuma nova pra eu passar o ano...”, pensou. De um lado, a amarelinha que comprou quando namorava o Zeca e passaram a virada em Maceió. Lembrou do moço e riu com saudades. “Ah, o Zeca...” Logo abaixo, a branca com florzinhas de renda que usou em Teresina com o Lourenço. “Uma calcinha tão linda pra um amante tão fraquinho...” Na pilha ao lado, uma vermelha do tempo em que estava louca pelo Felipe. Não sossegou, enquanto não conquistou o moço. Foi em Guarapari... Todo mundo de branco e ela com a calcinha vermelha aparecendo. Fez que fez, até que o capixaba enlouqueceu.
Foi olhando as outras, uma a uma. Eram dezenas, nunca jogava nenhuma fora, gostava de usar pra dormir, quando ficavam velhas. De repente se deu conta de que todas as suas calcinhas lhe lembravam alguém com quem estava saindo quando comprou. Zeca, Lourenço, Felipe, Thiago, Fernando, Théo, Joaquim... essa verdinha quem era mesmo? O Guto... "Nossa, quanto tempo passou desde o Guto..." Não havia uma só calcinha que não lhe lembrasse um antigo namorado, "credo, será que é por isso que estou sozinha?!"
Sempre que trocava de namorado, comprava um estoque novo de calcinhas. Era supersticiosa, achava que a calcinha velha podia levar a energia de uma relação pra outra... sem contar que cada um tinha um estilo e ela definia o tipo de calcinha pelo tipo de namorado. Asa-delta pros esportivos, tanga pros mais sacanas, biquini pros executivos, tipo cueca para os modernos, de algodão pros ecológicos, de renda pros tradicionais... e, assim, foi lembrando um a um, os caras com quem já havia transado, antigos namorados, grandes amores, paixões arrebatadoras, ficantes...
“Quanto tempo dura uma calcinha? O tempo do amor?”, não havia nada naquela gaveta com menos de um ano; desde que se separou do Igor, não comprava uma calcinha nova!!!
Que cor ia vestir no ano novo? Amarela? Não precisava de dinheiro... Branca? Estava de saco cheio de tanta paz e tranqüilidade... Verde? Esperança pra quê, se o tempo passa tão depressa? Rosa. Tinha de ser rosa, queria começar 2007 com um novo homem em sua vida, não agüentava mais a solidão, mas não podia repetir nenhuma daquelas, “deusolivre carregar nhaca de paixão velha pra caso novo!!!” Como é que foi se esquecer de comprar justo a calcinha?!!!!
Resolveu não usar nenhuma. “Quem sabe assim, arrumo um amor mais carnal, mais selvagem...” pensou e riu, enquanto terminava de se arrumar. Um colar vermelho quebrava o branco do vestido.
Quando abriu a porta do elevador, deu de cara com o zelador do seu prédio.
- Feliz ano novo, dona Fernanda.
- Pra você também, Genésio, respondeu quase automaticamente.
- A senhora vai pra garagem?
Nunca tinha reparado na voz grave do zelador. Parecia locutor de rádio.... E como era forte...
- A senhora vai descer na portaria?
Que homem era esse que lhe perguntava se ia descer na portaria? Como ela nunca reparou que Genésio era assim tão sedutor? Tão cheiroso.... Tão ébano... tão másculo... tão... "meu Deus, já faz um ano que estou sozinha"....
- Dona Fernanda?
Essa coisa de ficar vendo calcinha antiga, lembrando de namorados passados, definitivamente tinha mexido com ela. "Dona Fernanda, a senhora está bem?" Nesse momento perdeu o controle. Aquele deus afro bem ali na sua frente e ela indo sozinha pra festa?
À meia noite em ponto, fogos, fogos e mais fogos de artifício explodiam seu corpo inteiro.
Quando amanheceu o ano seguinte, nua, na minúscula cama da quitinete do zelador, enlaçada por aquele braço musculoso, negro, peludo.... resolveu jogar todas aquelas calcinhas velhas no lixo. Ano novo, vida nova. "Em 2007, não vou usar calcinha nenhuma...."
29 dezembro, 2006
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2 comentários:
Oi Lina!
Achei seu blog por acaso, quando estava visitando o blog do Peter.
Parabéns, tem textos super bacanas; lendo, parece que estou ouvindo você lê-los (como nas aulas da faculdade).
Grande abraço.
Oi, Rozangela!!! Bienvenida! Recebi seu email, quando vier pra SP vamos combinar alguma coisa. Beijão e agora que descobriu, volte!
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