05 janeiro, 2007

O Grande massacre de gatos

Já cumprindo a promessa de ler não só o que eu devo, mas também o que eu quero em 2007, “O grande massacre de gatos” é um desses livros que estava na fila já há algum tempo.
O autor é um historiador, que tenta mostrar como era a França dos séculos XVII e XVIII através dos costumes do povo e não dos fatos históricos, fazendo uma história etnográfica, como ele mesmo diz.
O livro é muito interessante, pois, na primeira parte, faz uma leitura dos costumes franceses, a partir de versões camponesas de clássicas histórias infantis, como “Cinderela”, “O Gato de Botas” e “Chapeuzinho Vermelho”. Na segunda, analisa a relação entre as classes trabalhadoras e a burguesia, através do “grande massacre de gatos”, ocorrido no fim da década de 1730, em Paris. Os capítulos seguintes eu ainda não li, mas diz o prólogo que o capítulo 3 mostra “a vida urbana na visão do burguês provinciano”; o 4 traz “a visão de um inspetor de polícia”; o 5, uma “classificação epistemológica do Iluminismo” e o capítulo 6 nos apresenta “Rousseau a partir de seus leitores”.
Tirando o mal estar absoluto que quem gosta de gatos sente ao ler passagens como as que transcrevo abaixo, o livro é excelente:

“para se proteger das feitiçarias de um gato só havia um remédio clássico: aleijá-lo. Cortando-lhe a cauda, aparando suas orelhas, quebrando-lhe uma perna, arrancando ou queimando seu pêlo, a pessoa quebrava seu poder malévolo”.
Ou ainda:
“Para proteger uma nova casa, os franceses encerravam gatos vivos dentro de suas paredes – um ritual muito antigo, a julgar pelos esqueletos de gatos exumados das paredes de prédio medievais”.

O enjôo inicial da leitura de trechos como esses, desaparece (ou, pelo menos, diminui) ao entendermos as relações desses atos com a realidade naquele momento. Fica aí a sugestão: “O grande massacre de gatos”, Robert Darnton, SP: Graal, 363 p.
(imagem: Aldemir Martins)

Nenhum comentário: