Cento e vinte na Bandeirantes. Pista boa, estrada vazia, Cassia Eller no último volume e a mãe no banco do co-piloto:
- Maria Eugênia, você não acha que está indo muito rápido, não?
- Imagina, mãe, esquenta não! Eu só peço a Deus, um pouco de malandragem...
O olho esquerdo da mãe possui um longo e esticado rabo, com o qual ela percebe o ponteiro do velocímetro quase chegando nos cento e quarenta:
- Maria Eugênia! O limite pra veículos não é cento e dez? Maria Eugênia! Por que é que você tá com tanta pressa?
- Eu sou o poeta e não aprendi a amar..... Hein? Que que é, mãe? Ah, Dá um tempo, dá!
- Mas Maria Eugênia....
A mãe suspendeu a frase quando a moto do policial emparelhou com o veículo em questão e mandou encostar.
- Ai, cacete!
- Eu te disse!! Agora é que eu quero ver! - disse a velhinha nervosa e pálida, enquanto acabava com a "Malandragem" num único clique.
- Cento e quarenta, minha senhora? Não viu as placas não?
- Pois é, seu guarda, desculpe, eu vi sim, claro, mas é que eu tô levando a minha mãezinha aqui que tá muito mal da catarata lá numa clínica de Campinas, sabe? O senhor sabia que os melhores hospitais de olhos da América Latina ficam em Campinas?
- (pelo amor de deus, maria eugênia, eu nunca tive catarata....) - sussurrou a mãe, à beira de um "ataque de nervos".
- Documentos, por favor. A senhora tem catarata é? - perguntou o guarda, olho no olho da velhinha.
- Não adianta falar com ela, não, seu guarda, porque ela não ouve nadinha!
- (maria eugênia o que é que é isso?! agora eu fiquei surda também?) - resmungou entre os dentes, quase tendo um AVC.
- É surda também, é? Que coisa, hein, dona Maria Eugênia... Olha, infelizmente eu vou ter que apreender seu veículo.
- Mas como assim, seu guarda? Não, pelo amor de Deus, foi só um excesso de velocidade e ainda justificado!!!! Minha mãe é quase cega e totalmente surda, o senhor não vai nos deixar aqui, no meio da estrada sem carro, tenha compaixão!
- É que, além de tudo, sua carta tá vencida, dona Maria Eugênia! Aí fica complicado!
- Vencida? Como assim, vencida? Desde quando?
- Desde que a senhora fez quarenta anos!
- O QUE É QUE O SENHOR TÁ ME DIZENDO? EU JÁ FIZ 40 ANOS?!?!?!?!?!
Depois de alguns segundos de silêncio absoluto, o guarda olhou pra ela, olhou pra mãe, que, naquele momento, estava com cara de qualquer coisa, menos de quem não tinha ouvido o despropósito, e desatou a rir. A mãe, que, há quase 50 anos, havia parido pela última vez, não se conteve e caiu na gargalhada. Maria Eugênia, seríssima, completou:
- Ai, que susto que o senhor me deu!! E olha que eu quase acreditei!!!! O senhor não pode brincar assim com as pessoas, não! Eu podia ter tido um enfarto, só de pensar nisso!
O policial, ainda sem conseguir conter o riso, devolveu a carteira e pediu que ela fosse mais atenta às placas até chegar a Campinas.
- Ah! - completou, antes que ela desse partida - Dona Maria Eugênia, assim que a senhora voltar pra casa, tire uma carteira nova, viu? Não sei como isso foi acontecer, mas algum funcionário inexperiente lá do DETRAN esqueceu de colocar a sua foto...
09 agosto, 2006
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5 comentários:
Pobre Maria Eugênia... Entendo perfeitamente seu susto... Além do mais, tirar carteira nova é um saco. E ainda tem que pagar! Sacanagem...
Não seria "Lina" Maria Eugênia...? quá quá quá quá quá!
Nananão... a carteira de Lina Maria já está devidamente renovada e com foto!
maravilha!!!
essa mulher me mata!!!
Adorei! Você anda muito bem humorada.... tá divertido!
Meu amigo que contava uma história de uma Kombi que tinha o nome de Maria Eugênia e vivia assim na contravenção. Hilário.
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