14 março, 2006

Paula e Bebeto

Hoje fiquei sabendo que uma amiga de colégio, depois de mais de vinte anos, tomou coragem e ligou pra um cara que estudou com ela da 5ª a 8ª série, por quem foi apaixonada durante a infância e adolescência.
Foi assim: ela entrou numa crise e decidiu repensar a vida. Ao fazer isso, disse que, todas as vezes que pensava no futuro, só conseguia ver, a seu lado, o “Bebeto”, seu amor adolescente. Pensou, pensou e não teve dúvidas: terminou a relação que estava vivendo e decidiu arriscar. Procurou o telefone, criou coragem e ligou. Assim! Sem ter a menor idéia de onde podia dar esse seu aparente “devaneio”, ela meteu a cara, se separou do namorado e telefonou pro cara.
A conversa foi longa e o interurbano um absurdo (hoje ela vive no interior e ele, aqui em São Paulo). Ele também havia terminado um casamento há um tempo, mas já engrenou um segundo. Tem uma filha da primeira relação, está bem com a atual mulher, estão pensando em ter um bebê, enfim, “o casamento vai bem, obrigado”. Eu disse a ela que provavelmente o tempo deles já havia passado, que talvez fosse tarde pros dois, que, afinal de contas, ela nem sabia como ele está hoje, se gordo, careca, barrigudo, ou sabe-se lá como. Aí ela me disse o seguinte: “Lina, eu não me importo com nada disso... Não me importo se vou ficar com ele agora ou no futuro. Pode ser mesmo que a gente nunca fique junto, mas de uma coisa eu tenho certeza: eu fiz o que precisava fazer por mim.”
Eu fiquei pensando no que eu podia falar pra essa moça depois disso... A certeza de que é com ele que ela deve ficar é tão grande que pouco importa o que eles estão vivendo nesse momento de suas vidas. Ela olha pra frente e só consegue ver o “Bebeto”, então não acha certo manter uma relação em que não acredita mais e, muito menos, ficar quieta no seu canto, sem dividir isso com ele.
Putz... Depois disso fiquei pensando no que é, de verdade, esse “olhar pra frente”... Não acho que estejamos falando de um futuro remoto, distante, quando estivermos velhinhas, com netos, e netas, e cães, e gatos roçando nossas pernas. Não... Estamos falando de um momento futuro, sim, indefinido temporalmente, sim, mas real, concreto e não um dia de contos de fadas, idealizado, que pode não chegar nunca.
Enxergar alguém a seu lado, no futuro, implica em pensar algumas posturas perante a vida, algumas atitudes que demonstram comprometimento e são fundamentais para se manter um relacionamento pela vida afora. Acho que é isso que te faz conseguir enxergar alguém a teu lado lá na frente...
Que sentimentos você valoriza? Que tipo de tratamento você espera do outro? Que atitudes você preza? Que tipo de companheiro você vislumbra a seu lado? Qual o caráter dessa pessoa? Como ela se relaciona com você e com o resto do mundo? Que posicionamento frente à política, à religião, ao preconceito, à ecologia, à vida e a todo o resto são fundamentais pra você? Que princípios são essenciais para você estar ao lado de alguém?
Essas são perguntas que devemos nos fazer sempre que pudermos e, se a resposta não for bem aquela que esperamos, devemos rever nossas relações. Rever, sim... Tudo o que existe no mundo pode ser mudado, transformado. Por que, então, não mudar o que está errado? E se não der pra mudar a relação, conserta-la, talvez você precise mesmo se mudar dela...
É preciso coragem pra apostar naquilo em que você acredita. É preciso olhar pra dentro, pra poder enxergar ao redor.
A minha amiga olhou pra frente e enxergou seu namorado de infância. E você? Já parou pra pensar em quem você vê, quando olha lá na frente? Tente... Pode ser que tenha uma bela surpresa.

Um comentário:

Anônimo disse...

Baiana querida,
"Em algum lugar desse mundo existe alguém destinado a encontrar-te!". Nunca me esqueço disso,sei que a qualquer hora esbarrarei na companhia tão esperada. Que forte texto, que profunda reflexão!Beijos na alma.