Só se encontravam pra transar. Todas as segundas, no fim da tarde, às vezes quintas, na hora do almoço, vez em quando sextas, pela manhã. Não que fosse só sexo. Não. Eles se gostavam, mas achavam que amor e tesão são duas coisas que não se suportam. No fundo, não acreditavam que pudesse dar certo, iam acabar estragando tudo.
Não se diziam “amantes”, não puderam dar esse nome àquilo que viviam; se achavam muito mais que isso. Ficaram assim, sendo “nada” um do outro e foram vivendo, ainda que faltasse a palavra – de alguma maneira precisavam dizer: “meu (....)”, “minha (...)”.
Um dia, resolveram namorar, oficializar o relacionamento, nomear. Cada um a seu modo deu um jeito na vida, para fazer caber o outro. Ele se separou da mulher, ela se mudou, de vez, pra São Paulo. Sofreram. Ainda que se quisessem tanto, sofreram, pois “não é fácil mudar uma vida”, dizia ela. Por fim, ficaram juntos. Durante algum tempo, foram só deles mesmos. Iam ao cinema sexta à noite, saíam pra almoçar aos sábados, freqüentavam a casa um do outro, conheceram filhos e experimentaram, enfim, a sensação de liberdade de ir e vir.
Só que não deu. Não deu... Não conseguiram entender, afinal se amavam tanto e há tanto...
Terminaram, mas continuaram se amando e se querendo – tanto. Sem saber direito o que fazer um com o outro, depois de uma certa ausência, resolveram ser amantes nomeados. Queriam um relacionamento leve, sem compromissos, perguntas, cobranças. Nomearam-se “amantes”, porque ainda se amavam e precisavam se ter perto.
Mas havia aquele temor nunca definido.
E veio o tempo.
Um dia, ele não apareceu. Ligou, tinha de levar o filho ao médico. Outra vez, enviou um torpedo, uma reunião. Numa terceira, dormiu e perdeu a hora. Por fim, nenhuma palavra. Ela esperou, esperou, até ser tomada pelo medo, que já a habitava. O medo do dia em que um dos dois encontraria alguém com quem realmente desejasse compartilhar os cafés da manhã de domingo, os almoços na casa da mãe, as festas dos filhos na escola, os jantares com um casal de amigos, as horas em frente à tv, as exposições de arte, a reforma da cozinha.
Naquele momento, ela soube que esse dia havia chegado e, com ele, a certeza de que não havia mais nada a dizer.
27 março, 2006
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2 comentários:
É Lina,
as histórias são sempre semelhantes. Início, fim, readaptações. Passamos mais tempo administrando horários, incertezas e medos do que curtindo aquele sorriso que representa o prazer do amor e do gozo.
Beijos
Regina
Pois é, Rê... e pensar que um só sorriso pode alimentar um dia inteiro, né? beijão
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