13 fevereiro, 2006

Quatro Casamentos e um Funeral - final

(continuação do post anterior)

Da terceira vez, você está cansado e começa a ter certas urgências. Quer a felicidade da segunda, mas sente falta das convenções da primeira. Você precisa, então, de um símbolo, algo que mostre que essa é a pessoa certa, o seu amor de verdade, aquele que o destino tinha guardado pra você. Uma aliança, uma celebração, enfim, algo simbólico, capaz de mostrar que você acertou e vai ser feliz. De certo modo, é o retorno da Cinderela, só que ela vem de táxi, pois, como tem pressa, não suportaria o trânsito numa carruagem.
O terceiro casamento é como o destino da viagem. Você só quer chegar, não importa arrumar as malas, nem qual estrada pegar; não importa parar no meio do caminho, não importa olhar a paisagem. Tudo o que você quer é chegar no seu destino. A felicidade está projetada para o fim da viagem, para a chegada no destino final. Um dia você percebe que acabou pegando uma estrada longa ou curva demais e que a felicidade pode não chegar nunca.
O quarto casamento é aquele em que se faz a viagem inteira. Você prepara as malas com calma, talvez esqueça o Sundown, mas não importa, há farmácias em todo lugar; aprecia a paisagem – pode ser que perca uma ou outra árvore, mas e daí se são tão parecidas?; e se delicia com o destino quando chegar lá; não importa que demore um pouco, uma vez que você escolheu a estrada pela qual queria viajar. No quarto casamento, você percebe que precisa ser feliz todos os dias, ainda que seu ideal de uma felicidade ampla, total e irrestrita esteja projetado pro fim da viagem (não se esqueça que ainda existe uma Cinderela dentro de você). Você percebe que é possível ser feliz a qualquer momento: enquanto arruma as malas e decide levar aquela camisa amarela que não usa nunca, enquanto as arranja melhor no porta-malas para que possa caber mais uma bolsa, enquanto aprecia uma árvore florida ao longo da estrada, enquanto pára pra um café no meio do caminho. Você reconhece que pode - e precisa - ser um pouco feliz todos os dias. O quarto casamento é aquele que dura a vida toda.
Talvez ele possa acontecer pra você na primeira, na segunda ou na terceira tentativa, mas pode ser, também, que não aconteça nunca, quem tem tanta certeza?
Se é possível ser um pouquinho feliz a cada dia, por que não somos? Por que não podemos ser felizes com as pequenas coisas que compõem a nossa vida dia após dia? Terá a filosofia transformado a felicidade em algo tão sublime, tão perfeito e tão etéreo, que passamos a acreditar que é também inatingível? A sociedade moderna condenou à morte a felicidade e nós somos participantes de seu funeral?

Ainda não existe um método ou uma receita mágica que possa ser vendida na TV ou no Polishop, mas será que realmente precisamos de uma fórmula milagrosa? Talvez devêssemos, apenas, ser um pouco mais simples e aprender a viver um dia de cada vez em nossas relações para, desse modo, alcançarmos nossa dose diária de felicidade, sem depositar sua realização ou frustração no casamento, no filho ou no companheiro. Citando Goethe, talvez precisássemos, apenas, “ouvir um pouco de música, ler uma boa poesia, ver um quadro bonito e, se possível, dizer algumas palavras sensatas todos os dias.”

Um comentário:

Anônimo disse...

cada um tem seu tempo...