Vou confessar: quando se trata de papel, sou daquelas que guardam tudo. Não consigo jogar nada fora. Folheto de pizzaria, guardanapo de restaurante com alguma coisa anotada, cartas, cartões de natal, aniversário e pêsames, recibos, contratos, apostilas, fotos, ingressos de teatro, cinema e até de circo. Antigamente eu tinha umas caixas que ficavam no fundo do guarda-roupa, mas essa compulsão foi crescendo de tal maneira que achei que precisava organizar essa papelada e hoje tenho um enorme arquivo de ferro com quatro gavetas, daqueles de escritório, enfiado no meu quarto. Tudo separadinho: tenho pastas com nomes de empresas, outras com nomes de pessoas, outras com o assunto, quando é uma coisa mais genérica. Por muito tempo me orgulhei dessa minha organização brilhante. Quando eu queria alguma coisa, era só procurar na pasta certa, que lá estava. Acontece que estou querendo ficar um pouco menos apegada às coisas materiais (hahaha!), além de não agüentar mais olhar pra aquela coisa cinza ocupando um espaço em que eu podia colocar um abajur, por exemplo. Por isso resolvi eliminar esse arquivo da minha vida, numa daquelas resoluções de ano novo em que a gente promete mil mudanças. É claro que não vou jogar tudo fora, mas se conseguir trocar por um arquivinho menor, desses de colocar embaixo da mesa, com duas gavetas, já está muito bom.
Essa semana nossa relação foi ficando cada vez mais insuportável. Eu acordo, olho pra ele e digo “é hoje!”. Aí o dia vai passando, eu vou me enrolando com mil outras coisas que só os desempregados conseguem arrumar pra fazer e ele sobrevive mais um dia. Hoje, finalmente, vesti roupa de faxina, meti um lenço na cabeça e abri a última gaveta, aquela que fica mais em baixo, onde estão recibos e apostilas. Minha vontade foi fechar e fazer de conta que não era comigo. Acho que tinha umas 30 pastas, mais ou menos, mas eu não desisti não. Olhei pasta por pasta, rasguei uma papelada inacreditável e esvaziei a última gaveta. Vamos ao inventário da gaveta de n° 4:
1 - Cinqüenta recibos de contribuição à Legião da Boa Vontade – não pense que eu contribuí só 50 meses. Não!!! Depois mudei pra débito automático... 2 - Boletos de pagamento do cartão de crédito da Mesbla – lembra? 3 - Boletos de pagamento do cartão de crédito do Mappin – consumidora compulsiva? Eu? 4 - Recibo de compra de um Pager Teletrim – sim, eu tive um Pager e adorava! 5 - Recibos de pagamento de um provedor chamado VIPBR – será que meu email era linamendes@vipbr? Credo!!!!
Não acabou, prepare-se pro pior: 6 - Duas apostilas de MS-DOS 7 - Uma apostila de Fox-pro e outra de Quatro-pro – alguém é desse tempo? 8 - Apostila de um curso de Leitura Dinâmica – não, eu não sei usar. 9 - Dezenas de apostilas de um curso de corretagem de seguros – pois é, se precisar de consultoria, é só chamar. 10 - Apostila de um curso de Neurolingüística – aha!!! Então é por isso?! 11 - Diversas apostilas de Técnicas de Negociação e Vendas 12 - And the Oscar goes to….. apostila do curso de gestantes, ministrado pelo meu convênio, quando estava grávida!!!! Ensina até a trocar fralda!
A última gaveta do meu arquivo me fez descobrir que, além de delírios de arquivista-compulsiva, também tenho compulsão por cursos....
Aguardem a próxima gaveta.
Um comentário:
Ô loco, Baiana, você consegue guardar mais "tranqueiras" do que eu... curso de gestante? Afe!! Ninguém merece!! Taca fogo!! Beijocas.
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