A gaveta n°1 tinha documentos pessoais, certidões, diplomas, declarações de IR, hollerits, e papeladas afins. Extrato de banco, por exemplo, alguém guarda? Eu guardava. Anos e anos de extratos do Banespa estavam ali à espera do caminhão de lixo. Sem falar dos extratos do convênio, do cartão de crédito, dos outros bancos, das contas ativas, inativas etc. Tudo devidamente rasgado e jogado fora. Algumas coisas eu vou guardar, outras, ainda não sei o que fazer. Dezesseis anos de holleriths, por exemplo? Jogo fora? E se precisar? Acabei organizando numa caixa, lacrei e meti no fundo do armário. Lá também havia algumas preciosidades, vamos lá:
1 – revistas, folhetos e cartas do Smart Club, uma espécie de clube de compras com pontos que podiam ser trocados por produtos. O Clube não existe mais desde 2001 e os pontos acabei perdendo, porque não fui trocar no prazo final.
2 – Reserva de hotel e comprovante do DOC de pagamento de uma viagem que fiz em 2002. Será que eu achei que ia precisar um dia?
3 – and the best: certificado de aptidão para ser madrinha de batismo. É assim: quando você vai ser madrinha de batismo de alguém, faz um cursinho na igreja e eles te dão um certificado de aptidão. Só que esse certificado tem uma data de validade. Eu, por exemplo, fiz o curso em 98 pra batizar minha sobrinha e minha validade como madrinha foi até 2000. Não é ótimo? Sou uma madrinha com prazo de validade vencido ou minha afilhada vai precisar me substituir?
A gaveta n°2 guardava cartas, cartões, fotos, textos, ingressos... lembranças, enfim. Como é que a gente se desfaz da lembrança de uma pessoa? Confesso que consegui tirar muito pouco dessa gaveta: os ingressos (já perdi essa mania), alguns textos que já digitei, fotos que não reconheço, cartas que não fazem mais sentido...
A segunda gaveta do meu arquivo me mostrou que podemos “rearranjar” as pessoas em nossas vidas, mudar seus lugares, trocar seus papéis, vê-las de modo diferente, mas jogar fora as suas lembranças, não as tira de dentro de nós.
Ainda que uma carta vá parar no lixo, cada lembrança está gravada em nossa memória junto com o momento em que foram vividas. Isso independe da nossa vontade, da vontade do outro e, até mesmo, da nossa compulsão em limpar as gavetas.
4 comentários:
Livrar-se de papel não quer dizer livrar-se de si mesma. Ainda bem que podemos guardar nossas lembranças onde ninguém vê, não é? Belas palavras, belo texto, belo Blog. E você, como é? Não tem foto?
Pra você, não.
Fê, por enquanto não vai ter foto. Espero que continue gostando dos textos. []s
Baiana querida, bem que vc podia faturar um dinheiro vendendo quilos de papéis, não?
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