14 outubro, 2006
Into the light of the dark black night
Ou: "Fluxo de consciência", "Cores de Almodóvar", "Intermitências de um ensaio sobre a cegueira", ou, simplesmente, "Black"
Ainda havia uma fotografia em minha caixa de guardados e eu a rasguei, num desses acessos de fúria de mulheres à beira de um ataque de nervos. Penso no Lexotan na veia (tem coisa mais cafona que dizer “Lexotan na veia”?), no botox no canto do olho (milagre da cosmética com nome de remédio pra vaca) e na nota de cem dólares enrolada - porque tudo nessa vida precisa de charme, até os vícios. Alguns vícios se escondem, adormecem, aquietam, até que um dia, após a terceira dose de Red, você se lembra de quando fumou aquele último cigarro. Nesse momento, saca los anteojos, cierra los ojos y lo fuma ("suele fumar un puro a cada día...")– ainda que esteja a quilômetros de um cigarro de verdade. E traga. Ah... a fumaça penetra teus pulmões e, de repente, – se antes red – tudo fica black por alguns impagáveis instantes de ausência. Tudo black, pois. Blacksoul, blackmoon, blacktears, blackbird singing in the dead of night, Black Label com gelo feito de água de coco - take these broken wings and learn to fly, blackbird!! - e você se entorpece do vício que não lhe é mais. A foto não era PB, como se esperaria num texto piegas e preguiçosamente sem parágrafos como esse. Não. Também não estava amarelada e corroída pelo tempo, como escreveriam bons escritores de folhetim. Era colorida - com cores de Almodóvar, cores de Frida Kahlo, cores - e enorme (Pra que uma foto tão grande, seu lobo? Pra não ver melhor, Alice!!!!!). No centro, milimetricamente delimitado pela lente do fotógrafo, o simulacro, o inverossímil, o mentiroso – o que é, verdadeiramente, a mentira, senão a junção do parecer e do não-ser greimasianos? E por que diabos há que se ter uma sintaxe e uma semântica pra tudo nessa vida? Eu a rasguei em aproximadamente 357, não, 375 (537?) pedaços, se bem me lembro. Lembro-me bem de que contei. E recontei. E me descobri péssima pras coisas numéricas. Foi então que fumei meu último cigarro. Branco, longo, slim. Um Charm de cigarro. E eu, antes casual smoker, o fumei sem pausas, como as intermitências de Saramago. However... we need a vice, ou não se vive nessa vida. Por isso o label em copo curto – vezes black, vezes red – está sempre à espreita, pronto para acompanhar Luis Miguel cuando la luz del sol se esté apagando.
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9 comentários:
É um privilégio estudar com a profa. Norma. Melhor ainda quando os estudantes conseguem acompanhá-la com propriedade, como no seu caso. Felicitações.
Caríssimo anônimo, infelizmente parei o curso da Profa. Norma esse semestre, mas devo voltar, futuramente. No próximo ano, quiçá? Em contrapartida, estou firme e forte com a profa. Diana, que é a responsável por minha introdução no universo semiótico.
Muito obrigada pelo elogio. Melhor ainda vindo assim "de chofre" e, apesar do anonimato, de alguém que mostra propriedade no que diz. Gracias.
então é só trocar "Norma" por "Diana" e o post pode continuar o mesmo. Sem a poética da profa. Diccini, claro.
Uma semana num cárcere asséptico. Na veia do braço esquerdo hemácias, plasma e energéticos coloridíssimos. Lembrei-me de Foucault ("Vigiar e punir"),literalmente visceral! Só a arte salva a desumanidade. Apago as fluorescentes e ligo uma empoeirada luminária amarela. Subverto a luz e a ordem, devagarinho fotografo com a mão direita (santa tecnologia!) os algozes que se embriagam diante do inusitado. Foi um suborno estético, só assim pude voltar pra casa pra devorar seu blog... Obrigada pelo carinho e amizade! Te adoro! Saudades... Beijos na alma!
A Norma é mesmo uma fofa... Dá vontade de ficar ouvindo sem vírgula, nem parágrafo as coisas que ela fala...
Turkhesa!!!!!! Eu entendi direito, vc saiu do hospital?! E eu que pensei que ia assistir House com vc no sábado que vem!!!! Que notícia boa é essa? Vou te ligar é já! beijos
Desculpem, mas meu comentário vai ser totalmente do avesso. O avesso do avesso do avesso? Hoje tô longe dos comentários "cabeça". Não que não goste deles, mas hoje não. Bem, sweetie, deixemos Panis et Circenses de lado, mas quando li seu texto, me veio na cabeça a música dos mutantes El justiciero, que é uma pândega, por sinal.
Prá você She´s my shoo shoo .... aliás, é um cd que vale apena ser sempre ouvido, Mutantes Tecnicolor.
a pena .... hunf
mutantes é tudo de bom, né, Helô? o povo do Pato Fu que o diga!
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