28 julho, 2006

Conspícua - final

(... continuação)

Nesse momento, entra uma mulher gritando na delegacia:
- OH, MANÉL, OH, MANÉL!!!! ONDE É QUE ESTÁ AQUÉL BALDADO QUE TENTOU ME MATAR A MIM?
- Posso ajudar?
- Oh, minina, eu me chamo Francisca Ferreira e vim aqui para registrar uma queixa-crime contra esse carniceiro assassino, meu marido, que tentou esfaquear a mim em minha própria casa!
- A senhora é a esposa do Seu Manél-estripa-bode? Está ferida? Fica calma, viu? Quer um cafezinho?
- Cafezinho, qual nada, oh pá! O que eu quero é ver esse mata-bodes a ferros!
- Calma, dona estripa-bode, o doutor delegado já vai atender vocês... Só mais um minutinho... a senhora sabe por que seu marido tentou matá-la?
- Ele disse que eu sou amásia do Manél da padaria, mas é tudo mentira!!!!
- Sei... “a vítima afirma que a suposição do marido é falsa”. E pode me dizer qual foi a arma utilizada?
- Uma faca.
- Que tipo de faca? De mesa, de serrinha, ginzo, canivete, facão, peixeira...
- O facão de tirar tripas aos bodes, oh, pá!
Quando o delegado chamou o casal, perguntou à Janira qual a acusação e ela respondeu, "conspícua" que só ela:
- “A Senhora Francisca Ferreira acusa o senhor Manuel Ferreira, seu esposo, vulgarmente chamado de “Mané-estripa-bode”, de tentativa de crime passional, ao tentar atingi-la com instrumento mortalmente cortante. A arma em questão é instrumento profissional do senhor Manuel, que a utiliza no exercício de suas funções trabalhistas como açougueiro especializado em caprinos. O suposto homicida afirma que sua senhora mantinha relações extra conjugais com um comerciante local, seu patrício, Senhor Manuel-da-padaria, suposição esta baseada em testemunho de terceiros. A vítima afirma que a acusação de adultério é inverídica. O acusado foi movido por motivo torpe, seguido de ação intencional em defesa da honra supostamente ferida, pois afirmou não ter vocação para chifrudo (sic)”. Isto posto, a vítima gostaria de registrar queixa contra seu cônjuge, doutor delegado.
O boquiaberto delegado, que só precisava do nome dos envolvidos e da queixa, devolveu Janira pra Secretaria da Saúde assim que o escrivão voltou a trabalhar, na semana seguinte. A delegacia, no entanto, nunca mais foi a mesma. Antes de ir embora, a moça enfeitou as mesas com vasinhos de violeta, colocou um bebedouro na recepção e instalou uma TV logo na entrada do DP pra distrair os “clientes” enquanto esperavam o delegado. Apesar de seus insistentes pedidos, não conseguiu aprovação para a compra de uma máquina de salgadinhos como a que havia no hospital.
Até hoje, quando lhe perguntam sobre sua experiência na Secretaria de Segurança, Janira responde:
- Foi ótima! Tive de me adaptar um pouco, mas deu tudo certo, só precisei aprender a ser um pouquinho mais conspícua!

5 comentários:

Anônimo disse...

rachei... mas ainda nao sei o q eh conspícua!!!

Anônimo disse...

hilário! fico imaginando uma figura como essa na delegacia. Muito bom!

Anônimo disse...

hahahahaha! Boa!!!! Nunca mais vou ser conspícua depois de ler seu texto!!!! Tribom!

Anônimo disse...

Baiana querida,
Sinto que seu jardim está adubado, um texto mais gostoso que o outro.
Não pode mais reclamar da falta de leitores assíduos e felizes!
Beijos na alma,

L. disse...

Turkhesa, minha querida, que bom que gosta... quem sabe não se inspira e reativa seu blog? já tá passando da hora... beijo