Meu pai é síndico. Minha mãe é a primeira dama. Na verdade, ela se diz “ajudante do síndico”, mas é ela quem faz todo o trabalho de “sindicância”: manda e desmanda nos empregados do prédio, controla as compras, as reformas, resolve os pepinos na portaria, e tudo o mais. O meu pai vai ao sindicato quando algum funcionário põe o prédio no pau. E só (ou quase só!).
Ele ODEIA ser síndico, mas toda vez que tem eleição, é reeleito; os condôminos pedem pra ele continuar, dizem que o prédio está uma maravilha, que não tem ninguém igual a ele, etc, etc, etc. Minha mãe pega no pé e ele diz ao povo "FICO!". No fundo, no fundo ela adora o poder que adquiriu quando era primeira dama. ERA! Porque agora, virou uma espécie de “cardeal”, sabe? Aquele cara que fica nas sombras, controlando tudo, enquanto meu pai exerce, digamos, o papel da rainha da Inglaterra.
Por exemplo: todos os dias, às nove da manhã, invariavelmente, o faxineiro toca a campainha e pede uma tal chave de um depósito pra pegar saco de lixo. Depois de uns 10 minutos, o cara volta e devolve a chave pra ela! Faz sentido? Se ela deixasse essa chave com o zelador, podia ficar na cama até mais tarde, mas não! Ela levanta e vai lá entregar a chave pro cara. Pode? Aliás, ser zelador no meu prédio é a função mais ridícula do mundo, porque o cara não decide nada sem perguntar pra ela. Ninguém decide nada sem perguntar pra ela, vocês não imaginam o poder que ela detém. O interfone deve tocar pelo menos umas 30 vezes por dia. Às vezes, eu até tento ajudar, mas é incrível como os caras são dependentes da minha mãe.
Hoje à tarde ela saiu e lá pelas tantas, toca o interfone:
- Dona Tiana taí?
- Não, ela saiu.
- Ah.... – (silêncio....)
- Posso ajudar?
- Não... Quer dizer... Deixa... Depois eu falo com ela.
- Tá bom!
Cinco minutos depois:
- Dona Tiana taí?
- Ainda não chegou!
- Ah.... – mais silêncio.
- Será que eu posso ajudar? – pergunto, diante da impaciência do sujeito.
- É que... Bom... Não! É só com ela mesmo. Brigado!
- Tá!
No máximo, dez minutos depois...
- Dona Tiana chegô?
- Escuta, o que é que tá acontecendo? É urgente? Quando ela chegar você vai ver, porque ela vai ter de passar por aí, não vai?
- É que eu pensei que ela tivesse chegado... Depois eu ligo...
- Aconteceu alguma coisa? Posso saber o que é tão urgente?
- É.... sabe o que é? O seu Antonio quer jogar no bolão e ela disse que ia fechar às quatro horas.
- HEIN?!?!?!
- É... ele quer jogar 3 a 1, mas ela disse que só podia ter a mesma aposta no máximo 4 vezes, sabe? Pra não ficar muita gente dividindo, sabe?
- (...)
- e o bolão ficou com ela...
- (...)
- e como ela não tá, e já são quatro e meia...
- (...)
- Será que ela deixa o seu Antonio jogar depois?
- (...)
Diante do silêncio sepulcral que sucedeu minha perplexidade, o porteiro desligou o interfone. Dá pra acreditar? Daqui a pouco rola CPI do bolão aqui no prédio!
E por falar em bolão, alguém arrisca um palpite pra eu jogar no bolão da minha mãe?
21 junho, 2006
Assinar:
Postar comentários (Atom)
11 comentários:
eu nem tento atender mais o interfone, eh uma perda de tempo... eu to sempre aki no computador e akela maldita sirene toca no corredor - eu soh olho - dah 10 segundos vejo uma velhinha enxuta correndo e falando - pois naaaaao??? eh a minha vó...
antigamente eu tentava ajuda-la neh??? minha voh, velhinha, ficar levantando 70, 80 vezes por dia pra atender o interfone, falar 2 palavras e deitar eh o fim da picada... entao sempre levantava e ia atender... soh q eu levantava e pegava o interfone, na hora q eu virava pra chama-la ela jah tava com a mao na minha orelha pra pega o interfone e falar uma palavra e desligar... aconteceu tantas vezes q eu jah desisti e prefiro descansar um pouco mais aki no computador mesmo...
soh quem nao ve isso ainda eh a minha mae, q toda vez q toca o interfone e eu nao atendo ela olha feio pra mim e fala - yanaí, tua voh jah eh uma senhora, pq vc nao levanta a bunda dai e atende o maldito interfone???
acho q ela soh vai entender depois q fizer td q eu fiz pra tentar mudar a questao interfone aki em ksa...
Yanaí =)
vai dar 3 a 1. Pro Japão!
A Tiana é uma figura muito popular nesse prédio.. acho que vou arriscar um palpite nesse bolão dela.. só que vou jogar SOZINHA. Nada de sócios!
Brasil 2 x Japão 0
Quanto é mesmo?
O regulamento do bolão permite apostas de estrangeiros? Ou extracondôminos, no caso... Eu nem moro no bairro, será que pode? Se sim, 3 a zero.
Precisa falar pra quem?
É... Bom... Pro Brasil, espero...
nossa, eu nem moro com voces, mas o tempo que eu passo aqui eu bem seeeeeeeeeeeeei que é exatamente assim!
esse interfone nunca pára!
hahaha
e esse bolão me deixa louca porque a yanaí fica zicando o jogo!
ela precisa começar a acreditar mais no Brasil e apostar mais alto!
Pois é, galera, não acreditei na seleção e joguei 1 a 0 só. Tomei! Junia passou longe! Jam, tudo bem, a diferença foi de 3 gols, mas faltou acreditar um pouquinho nos japinhas do Zico, né? A "bolada" do bolão da mamma deu quase 400 paus, é mole?
Muito obrigada, Baiana querida! Há muito que eu não ria tão leve... sua crônica familiar é deliciosa. Adorei o "testemunho" da primeira-neta, autêntico e provocativo como sempre. Bem, nunca fui síndica nem primeira-dama, mas comunico-lhe que reassumi o cargo de "Conselheira" aqui no meu prédio, afinal, alguém tem que "brigar" por um jardim mais belo. Beijos na alma.
Muito obrigada, Baiana querida! Há muito que eu não ria tão leve... sua crônica familiar é deliciosa. Adorei o "testemunho" da primeira-neta, autêntico e provocativo como sempre. Bem, nunca fui síndica nem primeira-dama, mas comunico-lhe que reassumi o cargo de "Conselheira" aqui no meu prédio, afinal, alguém tem que "brigar" por um jardim mais belo. Beijos na alma.
Turkhesa querida!!!!! Bom tê-la de volta, seus comentários fazem falta!!!! Tenho certeza de que você é a pessoa mais indicada pra cuidar do jardim do teu prédio. Não somente por ser a idealizadora, aquela que arranca os matinhos e as lagartas, mas pelo seu olhar capaz de ver o mundo de um modo tão delicado. Beijos muitos!
Here are some links that I believe will be interested
I like it! Good job. Go on.
»
Postar um comentário